Title Oficina: Cartografia Social, Uma estratégia de luta dos movimentos sociais
Axe - Territory
Slogan Life is not merchandise
Descrição / Relato
Oficina:
Cartografia Social, uma estratégia de luta dos movimentos sociais.
A atividade tem como objetivo principal mapear formas para identificar e administrar conflitos e opressões vivenciadas por diversos grupos sociais ou mesmo individualmente vivenciados por Mulheres, Negras, Negros, Indígenas, LGBTQ+, pessoas com deficiência, entre outras populações historicamente vulneráveis, contribuindo para identificar e atuar sobre espaços, territórios, instituições, proporcionando assim vivencias libertadoras, buscando romper com a reprodução da logica de exploração e opressão da sociedades capitalista.
Utilizaremos como método clinico a cartografia social, que tem contribuído com analises de espaços/território/lugar, ampliando o olhar para as relações que estão estabelecidas nestes espaços/ territórios, as relações de poder /saber e os dispositivos que operam nestes espaços, segundo Turriani (2015)
“A Cartografia Social é uma metodologia de intervenção comunitária que possibilita a construção de um conhecimento integral sobre o território, elaborado de modo participativo e horizontal através da investigação-ação-participativa, fazendo uso de instrumentos próprios da construção de mapas e da iconografia (representação visual de símbolos e imagens), mas que tem como foco principal favorecer a reflexão sobre a conjuntura local desde a perspectiva da própria comunidade, levando em consideração desde aspectos macro a aspectos micro, assim como aspectos objetivos e subjetivos do grupo com o qual se trabalha.” (Pág. 2).
No grupo trabalhado em questão, temos, jovens e adultos, estudantes mulheres, indígenas, LGBTS, Negras e Negros, entre outros movimentos sociais, que passam por um processo de desenraizamento conceito usado por Ecléia Bossi (1979) para designar o sofrimento psíquico devido a perda de memórias afetivas importantes, de referenciais que orientavam suas trajetórias, A perda destes referenciais, assim como a supressão das memorias afetivas, a distancia de sua cultura, valores, religião, se apresenta como um cenário extremamente vulnerável a saúde mental, sendo necessário a construção de iniciativas que valorizem esses referenciais, suas historias, suas culturas, suas memórias, por isso, a atividade proposta apresenta a cartografia social como dispositivo clinico, isto é mapear nosso território e nossas emoções presentes relacionadas com os lugares deste território para que possamos atuar sobre ele, que para Turriani (2015):
“Assim, a partir da identificação das estruturas públicas e privadas do território, das dinâmicas sociais, das relações de poder, conflito, exclusão, desigualdade e violência, de mobilização social, lutas e resistência – além de ser uma potente ferramenta que possibilita a construção do conhecimento sobre o território desde uma perspectiva comunitária que pode culminar no engajamento e compromisso social dos participantes – a produção dos mapas individuais e coletivos é uma potente ferramenta para mover nossas memórias, colocá-las em movimento, favorecendo a ressignificação de nossas relações com o espaço e o tempo, a geografia e a história, a comunidade e a família, por fim, consigo próprio. É, assim, também um potente dispositivo para que laços de cuidado e solidariedade possam ser recuperados, sobretudo em comunidades marcadas pelo espólio e pela desigualdade, e desse modo, para que a saúde mental possa ser pensada além de uma perspectiva individualizada e psicopatologizante, e possa ser considerada desde sua interface política, cultural, histórica, territorial, social. “(Pág. 2)”.
Essa metodologia vem dos estudos de Michel Foucault Vigiar e punir (1975), seguido por Deleuze e Guatarri Mil Platôs ( 1980), e no Brasil chegou com Suely Rolnick (1986), com a Cartografia dos Desejos, e Anna Turriani mais recentemente apresenta textos de psicologia utilizando a cartografia social como método clinico. Neste contexto essa teoria foi fortemente influenciada pelas lutas sociais da década de 70, O método da cartografia social assim como a metodologia cartográfica, segundo Turriani (2015) está:
“atrelado à educação popular, aos movimentos de libertação e aos movimentos de base na América Latina, vem da geografia crítica e seu uso com comunidades tradicionais, vulneráveis e exploradas pelo Estado em conjunto com o capital internacional. Nascida na década de 70 tem como cerne central convocar às comunidades a pensar sobre a representação de seu território, empoderando-se da atuação sobre ele.” (Pág. 2)
Buscando formas de identificar e reconhecer às representações do território, possibilitando assim construir meios para a atuação de redes de apoio e fortalecimento coletivo e individual, para que estes possam atuar de forma critica sobre esses espaços hegemônicos.
O conhecimento sobre o território suas fortalezas, seus jogos de poder-saber, sua forma de comunicar, o individualismo, a competição, assim como os lugares de bem estar, de acolhimento, de segurança, são fundamentais para uma atuação efetiva pautando o auto cuidado, e fortalecimento do outro, esses movimentos para Turriani ( 2015) são extremamente importantes:
“Busca ampliar o debate sobre os problemas locais, ao invés de reduzi-los a verdades técnicas e exteriores ao grupo. Talvez o mais potente resultado destes processos de cartografia seja o empoderamento comunitário, que pode se dar de diversas formas: sentimento de pertença, reconhecimento dos condicionantes sociais vigentes, responsabilização pela manutenção ou transformação da ordem estabelecida, reconhecimento das resistências e enfrentamentos já existentes, assim como elaboração de novas estratégias, entre outros. (Pág. 5)
Dentro desta perspectiva a oficina propõe aos participantes a construção de um mapa do território baseado nas experiências da trajetória no contexto do qual cada participante esta inserido, a ideia de falar do cotidiano, das vivencias, nas lutas e resistências, para assim debatermos juntos a construção de um projeto de atuação sobre os espaços com a finalidade de transformação social, segundo Turriani (2000 ) o método cartográfico pode auxiliar em uma posição subjetiva aparentemente distanciada e desimplicada dos problemas, o que favorece um engajamento com a atividade bastante produtivo. (pag. 6).
Orientações disparadoras:
Visando aprofundar as memórias de nosso cotidiano –
O que faz quando acorda? Como são esses primeiros momentos do dia?
Para onde vai quando sai de casa? Por onde passam para chegar neste lugar?
O que sentiu quando entrou neste lugar pela primeira vez? O que sente hoje?
Como são as pessoas que estão neste lugar com você? Transmitem segurança? ?
Como foi sua relação com os amigos na luta, na resistência? Quais te marcaram e por quê?
Sua família era participativa nas lutas sociais?
A família é um lugar de segurança?
Por quais lugares passam, o que veem?
E assim, até chegar ao fim de cada etapa escolar, ensino fundamental, ensino médio e ensino superior.
A partir dessa rememoração, solicitamos aos participantes que busquem desenhar em uma folha um mapa de sua trajetória cotidiana e os lugares por onde passa durante seu dia a dia, buscando localizar os lugares que mais frequenta que mais chamam sua atenção. Elencando lugares de segurança e lugares de insegurança.
Ao final pedir para que se juntem em grupos de 4 ou 5 pessoas para construção do mapa coletivo das trajetórias escolares /acadêmicas.
Referenciais:
TURRIANI, Anna; Cartografia social como dispositivo clinico: desproposições para a recuperação e reconstrução de memória coletiva. Revista Margens Clinicas – ensaio 3 . 2015.
Data/hora
Date(s) - 14/03/2018
15:00 - 17:00
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